Erupção Vulcânica: Cáritas prepara projecto de urgência para deslocados de Chã das Caldeiras

Domingo, 01 Março 2015
Actualizado a 01/03/2015, 15:39 Cidade da Praia, 01 Mar (Inforpress) - A Cáritas Cabo-verdiana está a preparar um projecto de urgência para submeter aos seus parceiros internacionais com vista a reforçar o apoio que vem dando aos deslocados de Chã das Caldeiras, na sequência da erupção vulcânica. Em declarações à Inforpress, a secretária-geral da Cáritas, Marina Almeida, informou que um primeiro projecto foi apresentado à ministra do Desenvolvimento Rural, Eva Ortet, que já o enviou à Embaixada de Cabo Verde em Portugal em busca de financiamento. O objectivo, informou, é aliar a questão do mau ano agrícola com a da carência alimentar da população, sendo proposta da Cáritas fazer a compra da carne directamente aos agricultores que, por falta de pasto, já não vão perder os animais sem nenhum contrapartida. Segundo essa responsável, neste momento, a dificuldade é como vai a Cáritas continuar a trabalhar com todas as entidades presentes no terreno, visto que “há muita gente lá e a coordenação tem sido um pouco deficiente”. Lembrou que a ONG católica foi convidada, apenas uma vez, para participar e dizer o que estava a fazer, apesar de ser sua vontade estar presente e contribuir para não duplicar as ajudas e poder orientar melhor os donativos que ela tem recebido. Marina Almeida destacou o donativo de mais de 900 contos recebido da comunidade cabo-verdiana na Noruega e outros apoios que vieram da Cáritas do Luxemburgo e da Cáritas África, sem esquecer as contribuições internas. São ao todo cerca de 2.400 contos, que têm permitido à Cáritas, desde a erupção vulcânica, que começou a 23 de Novembro, ajudar cerca de 500 pessoas afectadas, confirmou. Mas não foi fácil no início, admitiu Marina Almeida, para explicar que as Cáritas locais não estavam bem organizadas, dado que, normalmente, são estruturas muito dependentes do pároco local que, quando substituído, “às vezes, a própria estrutura estremece”. Passada essa dificuldade, notou, “houve uma boa acção dos párocos” e das equipas locais, desde a primeira hora e o primeiro apoio da organização foi monetário para o centro de acolhimento nos Mosteiros, tendo a Cáritas decidido depois ter um “espaço seu” para acolher as pessoas que “não estivessem tão bem integradas”. “Houve uma atenção muito especial em coisas que os outros não tinham pensado e acabámos por estar mais atentos aos kits íntimos para mulheres e homens, que fizeram um sucesso enorme”, para além de todo o acolhimento que receberam dos párocos e da equipa local, salientou. De acordo com a secretária-geral, neste momento, a questão da alimentação é delicada, tendo a Cáritas feito uma campanha a nível nacional em que conseguiu algum apoio em géneros alimentícios, permitindo atender às pessoas que pediam milho e feijão. Marina Almeida enalteceu, por outro lado, o apoio da sua organização aos deficientes, grávidas e pessoas idosas, que foi “algo de muito positivo”, bem como o engajamento da Cáritas paroquial em arranjar casas junto dos emigrantes para realojar mais de 30 famílias, devendo a Câmara dos Mosteiros pagar o aluguel. Paralelamente, a Cáritas forneceu alguns kits familiares, que incluíam panelas, fogões, colchões, sem contar os apoios em roupa e comida, com a introdução da carne e do peixe, acrescentou, salientando que também já se fez uma primeira distribuição de três contos a cada família e a perspectiva é que, mensalmente, ela seja beneficiada com um montante “e depois a gente acompanha”. Até Julho, promete que a Cáritas vai prosseguir as iniciativas programadas desde 2013 no âmbito da campanha internacional contra a fome, sob o lema “Uma só família humana, alimentação para todos”, que termina, oficialmente, a 19 de Maio, Dia da Cáritas, em Milão (Itália). “Com o mau ano agrícola em Cabo Verde, queremos continuar a incentivar as paróquias para a partilha alimentar, muitas da quais incentivaram e criaram o Dia do Quilo, e as pessoas têm estado a contribuir com alimentos para ajudar as famílias mais pobres”, informou. Paralelamente, afiançou Marina Almeida, a Cáritas vai continuar a trabalhar o direito à alimentação, que consiste numa acção de advocacia junto dos poderes públicos e não foi “muita incisiva em Cabo Verde”. Além disso, “a campanha não foi totalmente apropriada pelas bases aqui no país” pelas limitações de recursos também, esclareceu, para realçar que muita pouca coisa se fez a nível mundial, até porque vários países não conseguiram atingir o primeiro objectivo de desenvolvimento do milénio, que preconiza a erradicação da pobreza e da fome no mundo. A Cáritas Caboverdiana foi criada em 01 de Fevereiro de 1976 e tem como objectivo irradiar a caridade cristã promovendo a justiça social e a solidariedade humana, centrando toda a sua acção na pessoa humana. É presidida pelo Bispo de Santiago agora cardeal, Dom Arlindo, e, hoje, segundo domingo da Quaresma, assinala o Dia da Cáritas Caboverdiana. ABInforpress/Fim