Lava do vulcão do Fogo destruiu Portela e invadiu 70% de Bangaeira

Domingo, 07 Dezembro 2014

A lava do vulcão que assola a ilha do Fogo há 15 dias destruiu a localidade de Portela e já atingiu 70% de Bangaeira, disse hoje à agência Lusa fonte oficial do Governo.

Aleida Monteiro, diretora do Gabinete de Comunicação do Governo cabo-verdiano, adiantou à agência Lusa que, em pouco mais de um dia, a lava que jorra desde 23 de novembro destruiu a parte central e sul de Portela, deixando de pé apenas parte do edifício que alberga a Adega Cooperativa de Chã das Caldeiras, onde se produz o conhecido vinho do Fogo.

A parede traseira da sede da cooperativa foi destruída pela lava, que se encontra também a poucos metros da parte dianteira do edifício, com a torrente a seguir em frente, deixando o edifício cercado pelas brasas incandescentes, que fluem com alguma velocidade, mas sem ser em estado totalmente líquido.

O edifício poderá ficar completamente destruído - toda a produção vinícola de vinho branco deste ano já está perdida, enquanto a de tinto foi retirada a tempo -, caso se dê um avolumar da lava, o suficiente para engrossar qualquer uma das duas frentes que, entretanto, seguiram em direção à povoação seguinte, Bangaeira.

Segundo Aleida Monteiro, que se encontra em São Filipe, "capital" da "Ilha do Vulcão", o Ministério da Administração Interna (MAI) cabo-verdiano está a monitorizar "ao minuto" as erupções vulcânicas e a evolução da lava em Chã das Caldeiras, planalto que serve de base aos cones vulcânicos do Fogo, assegurando que disponibilizará toda a informação sempre que houver alterações relevantes.

Face ao facto de não encontrar obstáculos no terreno, a nova frente de lava já devastou 70% da área habitacional de Bangaeira, localidade a pouco mais de 100 metros da última casa de Portela,

Hoje de manhã, o coordenador das operações da Proteção Civil cabo-verdiana, Nuno Oliveira, que se encontra em Bangaeira, disse à agência Lusa que o acesso rodoviário a Portela foi cortado novamente pela lava.

A estrada de terra termina abruptamente a pouco mais de um quilómetro do local onde deixou de existir Portela, cuja encosta sobranceira só é possível atingir a pé.

Bangaeira situa-se num vasto vale com uma pequena inclinação no nordeste de Chã das Caldeiras.

Na descida para o mar (Portela e Bangaeira situam-se a pouco mais de 2.000 metros de altitude), o vale, aberto, termina com um pequeno parque florestal, correndo-se o risco de se incendiar, o que complicará a situação, sublinhou.

O responsável da Proteção Civil afirmou desconhecer quais as possibilidades de a lava, que avança por cima da jorrada na última erupção, em 1995, atingir, na sua descida pela encosta, outras localidades, antes de, eventualmente, chegar ao mar.

"O risco existe, mas não sei determinar, para já, para onde seguirá, embora as perspetivas não sejam boas", disse Nuno Oliveira, que se encontra em Bangaeira e cuja população, bem como a de Portela, estimada em quase 1.500 pessoas, foi evacuada ao longo da primeira semana de atividade vulcânica.

Relva, Tinteiro e Mosteiros, no nordeste da ilha, são as localidades mais próximas, mas torna-se impossível determinar qual o rumo que seguirá a lava, que, ultrapassada Portela, se dividiu em três frentes, duas delas mais fluidas, embora sem atingir o estado líquido.

Lusa